Infelizmente, a Lomba também foi palco de um dos grandes mas trágicos acontecimentos da história portuguesa e mesmo universal: as invasões francesas a Portugal. Se tivermos em conta que as tradições orais das nossas aldeias, geralmente, chegam até nós já bastante esbatidas pelo tempo e pela degeneração natural («Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto»), podemos dizer que são bastante numerosos e com muitos pormenores os relatos orais das invasões francesas na Lomba que, como gritos de aflição dos que então eram vivos, vêm das profundidades dos tempos e atravessam dois séculos para chegar até nós ainda com tal vivacidade que parecemos estar ainda hoje diante dos rostos aterrorizados de quem acabou de viver tal horror! Se isto representa alguma vantagem para quem quer fazer a história de um lugar pequeno e praticamente não tem documentos para o fazer, também é duramente verdade que para que estes relatos chegassem até nós de forma tão intensa, apesar da corrupção do tempo, teve que haver um acontecimento verdadeiramente terrível e traumatizante.
Antes de passarmos à Lomba em concreto, vejamos, como contextualização, que dados temos sobre as invasões em Arganil e arredores. Segundo a Doutora Regina Anacleto (ANACLETO, Regina, Arganil, colecção Cidades e Vilas de Portugal volume 21, Editorial Presença, Lisboa 1996, página 26), a passagem das tropas napoleónicas por Arganil deu-se em 1811 e por duas vezes: apenas algumas horas a 17 de Fevereiro; e uma semana, a partir do dia 12 de Março, atingindo não só a vila mas também os arredores:
«Com efeito, apesar de no dia 17 de Fevereiro de 1811 só estanciarem no burgo duas a três horas, ainda tiveram tempo de assaltar e roubar, bem como de matar «o Reytor Arcypreste» e, pelo menos, outras cinco pessoas; não se eximiram foi a ter «economia com o vinho, pois o que não beberão o taparão muito bem, signal deque oguardavão para outro dia».
»Quase um mês depois, a 12 de Março, iniciou-se a segunda incursão pela vila e arredores; desta feita, a estada prolongou-se por sete longos e tenebrosos dias.
Entretanto, a 14, «lançarão fogo ás cazas de José de Mello (o solar da família da futura condessa [das Canas]), que foi tão forte, que do largo da entrada para cima não ficou senão hum monte de cinzas, os potes do armazem do azeite todos arrebentarão, e fizerão um fogo infernal, o celeiro do milho todo ardeo, sem ficar hum grão».
»Provavelmente, o espaço de tempo que mediou entre as duas arremetidas pode explicar-se pela chegada de Wilson, que com a sua divisão de tropa montou quartel em Arganil, embora viesse a deixar o campo aberto ao inimigo, por «derepente [ter] desaparec[ido]».
Assim, das três invasões dos franceses a Portugal a que atingiu Arganil e, portanto, a Lomba, pela data (1811) só pode ser a terceira, comandada pelo Marechal André Massena, que entrou pelo nordeste de Portugal em 1810, ocupou Almeida em Agosto e foi derrotado na batalha do Buçaco a 27 de Setembro, seguindo depois em direcção a Lisboa. E, de facto, segundo a carta escrita pelo Padre Manuel Gomes Nogueira a 23 de Março de 1811, «a fim de cortar a retirada dos exércitos comandados por Massena, acabou mesmo por ser demolido o primeiro arco do lado poente» da ponte da Mucela (o. c., página 27). E o bispo de Coimbra D. Frei Francisco de S. Luís deixou uma relação dos «estragos feitos pelo Exercito Francez de Massena em Arganil e Seu Termo» (o. c., página 133).
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