segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As invasões francesas na Lomba (1ª parte)

Infelizmente, a Lomba também foi palco de um dos grandes mas trágicos acontecimentos da história portuguesa e mesmo universal: as invasões francesas a Portugal. Se tivermos em conta que as tradições orais das nossas aldeias, geralmente, chegam até nós já bastante esbatidas pelo tempo e pela degeneração natural («Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto»), podemos dizer que são bastante numerosos e com muitos pormenores os relatos orais das invasões francesas na Lomba que, como gritos de aflição dos que então eram vivos, vêm das profundidades dos tempos e atravessam dois séculos para chegar até nós ainda com tal vivacidade que parecemos estar ainda hoje diante dos rostos aterrorizados de quem acabou de viver tal horror! Se isto representa alguma vantagem para quem quer fazer a história de um lugar pequeno e praticamente não tem documentos para o fazer, também é duramente verdade que para que estes relatos chegassem até nós de forma tão intensa, apesar da corrupção do tempo, teve que haver um acontecimento verdadeiramente terrível e traumatizante.

Antes de passarmos à Lomba em concreto, vejamos, como contextualização, que dados temos sobre as invasões em Arganil e arredores. Segundo a Doutora Regina Anacleto (ANACLETO, Regina, Arganil, colecção Cidades e Vilas de Portugal volume 21, Editorial Presença, Lisboa 1996, página 26), a passagem das tropas napoleónicas por Arganil deu-se em 1811 e por duas vezes: apenas algumas horas a 17 de Fevereiro; e uma semana, a partir do dia 12 de Março, atingindo não só a vila mas também os arredores:

«Com efeito, apesar de no dia 17 de Fevereiro de 1811 só estanciarem no burgo duas a três horas, ainda tiveram tempo de assaltar e roubar, bem como de matar «o Reytor Arcypreste» e, pelo menos, outras cinco pessoas; não se eximiram foi a ter «economia com o vinho, pois o que não beberão o taparão muito bem, signal deque oguardavão para outro dia».
»Quase um mês depois, a 12 de Março, iniciou-se a segunda incursão pela vila e arredores; desta feita, a estada prolongou-se por sete longos e tenebrosos dias.
Entretanto, a 14, «lançarão fogo ás cazas de José de Mello (o solar da família da futura condessa [das Canas]), que foi tão forte, que do largo da entrada para cima não ficou senão hum monte de cinzas, os potes do armazem do azeite todos arrebentarão, e fizerão um fogo infernal, o celeiro do milho todo ardeo, sem ficar hum grão».
»Provavelmente, o espaço de tempo que mediou entre as duas arremetidas pode explicar-se pela chegada de Wilson, que com a sua divisão de tropa montou quartel em Arganil, embora viesse a deixar o campo aberto ao inimigo, por «derepente [ter] desaparec[ido]».

Assim, das três invasões dos franceses a Portugal a que atingiu Arganil e, portanto, a Lomba, pela data (1811) só pode ser a terceira, comandada pelo Marechal André Massena, que entrou pelo nordeste de Portugal em 1810, ocupou Almeida em Agosto e foi derrotado na batalha do Buçaco a 27 de Setembro, seguindo depois em direcção a Lisboa. E, de facto, segundo a carta escrita pelo Padre Manuel Gomes Nogueira a 23 de Março de 1811, «a fim de cortar a retirada dos exércitos comandados por Massena, acabou mesmo por ser demolido o primeiro arco do lado poente» da ponte da Mucela (o. c., página 27). E o bispo de Coimbra D. Frei Francisco de S. Luís deixou uma relação dos «estragos feitos pelo Exercito Francez de Massena em Arganil e Seu Termo» (o. c., página 133).

continua

Numa chuvosa 5ª feira de Setembro...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Sardinhada para todos

É já no próximo sábado, dia 27 de Setembro, que se vai realizar uma sardinhada oferecida pela Comissão de Festas 2008. Este evento tem início às 12h00m e é para todos os lombenses.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

As antiguidades lombenses (3ª parte)

A Lomba no século XVII

É verdade, bem me lembro, que prometi falar sobre as invasões francesas na Lomba nesta terceira parte d’As antiguidades lombenses. Porém, novas descobertas surgiram entretanto: se já sabíamos que a Lomba existia pelo menos no século XVIII (grade do Senhor da Ladeira) e inícios do século XIX (invasões francesas), agora vemos as suas origens a “recuar” até ao século XVII. Consegui informações seguras sobre o assunto contactando com José Caldeira, da Nogueira, que se tem dedicado ao estudo das famílias do concelho de Arganil e dos concelhos limítrofes. Este ilustre estudioso nogueirense forneceu-me preciosas informações sobre as origens da Lomba.

Sabemos com segurança que a Lomba é habitada pelo menos desde o século XVII, porque há registo de um casal que cá morava nessa época: Manuel Antunes e Ana de Figueiredo. Ainda hoje há quem conheça a Lomba por «Lomba da Nogueira» porque noutros tempos teve de facto esse nome. A Nogueira, terra já bastante antiga (século XIV, pelo menos), dava naturalmente nome a lugares vizinhos, como é, ainda hoje, o caso do Cabeço da Nogueira. A propósito da já falada colonização da Lomba por pessoas da Nogueira, diz-nos José Caldeira:

«A Lomba deve ter nascido das famílias da Nogueira que se estabeleciam naquela lomba, em muitos casos com tabernas, por ser aquele o caminho dos serranos que vinham à vila. Isto não quer dizer que o local não fosse há muito habitado, mas como fazendo parte do território nogueirense.
»Outra razão para a deslocação de nogueirenses para o local pode ter sido por serem rendeiros das terras da Comenda (certamente da Comenda de São Gens na Ordem de Cristo)».

Mas José Caldeira tem provas concretas da presença de habitantes na Lomba no século XVII:

«A primeira vez que encontro referência à Lomba da Nogueira ou ao Casal da Lomba da Nogueira é no século XVII, com um casal aí residente: Manuel Antunes e Ana de Figueiredo. Dos seus vários filhos encontro uma, também Ana de Figueiredo, a casar em 1696 com um Manuel Francisco, do Vale de Nogueira. Destes descendem quase todas as famílias da Lomba e da Nogueira e não só».

Qual era a proveniência deste casal, antepassado de quase todos nós? Quanto a este ponto José Caldeira levanta algumas suposições, embora não as dê como certas:

«É possível que a Ana de Figueiredo mais antiga fosse da Nogueira e o marido viesse de fora, talvez da Pampilhosa, pois um seu neto tinha a alcunha de «Furica» e o nome porque são conhecidos os pampilhosenses é «Furrica». Seria assim o primeiro dos muitos serranos que se casaram na Lomba, decerto por ser no caminho da serra. Mas tudo isto são apenas suposições difíceis de confirmar».
Certamente todos gostaram de saber que a Lomba já tem pelo menos três séculos. Quanto à antiguidade, foi o mais longe que conseguimos chegar em investigação até agora. Quem sabe se entretanto não aparecem dados ainda mais antigos? É muito pouco provável, mas pode acontecer. Quem sabe?
Quanto à história das invasões francesas na Lomba, é um marco que fica ultrapassado no que diz respeito à pesquisa sobre antiguidades lombenses e por isso já não o vou tratar neste artigo, que fica encerrado com estas últimas descobertas. No entanto, por ser um assunto bastante importante não deixarei de o tratar, mas vou fazê-lo numa outra série de artigos que publicarei em breve.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma nova casa nasce na Lomba

A paisagem da nossa aldeia está, uma vez mais, a mudar: está em construção uma nova casa de habitação. É na chamada Rua Principal, do lado direito de quem vem da vila, mesmo em frente à casa de Helena Rodrigues, e a construção avança a bom ritmo. Desejo aos donos da nova casa bom sucesso no seu empreendimento e felicidades para a habitarem.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Setembro

Em Setembro finda o Estio,
Jorram do céu as primeiras chuvas.
Grandes feiras animam as praças.
Despem-se as vinhas das tintas uvas.

Tintas e brancas enchem poceiros
Em doce, pegajoso vindimar;
Acartadas em ladeiras de suor,
Pisam-se e fermentam no lagar.

Vai-se o calor mas ainda haverá
Dias felizes p'ra festejar.
Céu de prata, chuva de cristal
Refrescando a terra e o ar.

As antiguidades da Lomba (2ª parte)

A grade de ferro da capela do Senhor da Ladeira
Não sabemos quando nasceu a Lomba e nem encontrei até agora qualquer indicação de quando começou a ser habitada. Mas sei com certeza que o nosso lugar é habitado pelo menos desde o século XVIII. Na verdade, a tradição oral que conheço não nos dá notícias mais antigas do que até esse século, ou seja, o século em que foi forjada uma monumental grade de ferro que está na capela do Senhor da Ladeira, no Santuário do Mont’Alto, e que se diz ser setecentista, tal como é, aliás, toda a capela. É a grade que divide o presbitério da nave da igreja, ocupando todo o arco desde o fundo até ao cimo, abrindo no fundo em duas portas. Para além de ser muito alta, a grossura das suas peças em ferro maciço é realmente impressionante! É uma obra feita com arte e mete respeito pelas suas dimensões. Surpreendentemente, esta obra magnífica foi feita na Lomba! De facto, o já falecido ti’Luís dizia que «a grade de ferro que está na capela do Senhor da Ladeira, no Mont’Alto, foi feita cá na Lomba, numa forja que cá havia».

Estes factos são os testemunhos mais antigos que consegui encontrar do povoamento da Lomba, e fazem-no remontar, portanto, ao século XVIII. Se bem que o Monsenhor Nunes Pereira era da opinião de que a grade é mais antiga do que a própria capela. Mas quantos anos? De qualquer modo, temos por certo pelo menos que pelo menos no século XVIII a Lomba já existia e tinha até um ferreiro de certo mérito com oficina estabelecida.

Acerca da grade diz-nos a Doutora Regina (ANACLETO, Regina, Arganil, colecção Cidades e Vilas de Portugal volume 21, Editorial Presença, Lisboa 1996, páginas 106 e 107): «No interior [da capela], sob o arco triunfal, uma grade de ferro lançada a toda a altura e formada por grossos varões horizontais que a dividem em três corpos, onde se desenvolvem enrolamentos de barrinhas, separa os dois corpos do edifício. Entra na tradição que esta bonita grade impediu os soldados franceses de entrar na capela-mor, a fim de roubar os tesouros do santuário e profanar as imagens que ali se encontravam a bom recato, o que me não parece provável, porque os invasores, no Mont'Alto, poucos danos causaram e, certamente, tinham meios que lhes possibilitariam ultrapassar o obstáculo. Mas aceitemos a memória».

Em que lugar da Lomba é que a grade setecentista foi forjada? A forja que cá existia e da qual há ainda pessoas vivas que se lembram era na eira (ao pé da casa que hoje é do ti’Henrique), atrás da casa em ruínas que lá está. Disse-me o ti’Henrique que já não se lembrava de essa forja laborar, mas na sua infância «ainda lá estava a pedra» onde se fazia o braseiro e onde ainda havia restos de uma «mistura de cinza com ferro fundido». Porém teria existido uma forja anterior na rua do chafariz, onde hoje é o portão de madeira. Foi aí que foi feita a grade de ferro do Senhor da Ladeira? Talvez…

Não sei se esta tese da grade do Senhor da Ladeira tem ou não uma consistência de… ferro! Eu pessoalmente acredito que sim. Mas ainda que assim não seja, a tradição oral deixou-nos testemunhos ainda mais firmes do povoamento da Lomba mesmo no início do século XIX: os relatos orais das invasões francesas na Lomba. Vai ser esse tema do próximo artigo d’As antiguidades da Lomba.