segunda-feira, 13 de outubro de 2008

As invasões francesas na Lomba (5ª parte)

A falta de alimento foi o problema atroz que ficou depois da invasão: «Depois da partida «daquellas feras», «oque mais deve lamentar-se hea fome, porque não só os pobres, mas tambem os ricos não tem couza alguma, que comão, porq por onde passou a tormenta nada absolutamente ficou, nem de mantimentos, nem de carnes, nem de ortaliças: e se alguma couza escapou ao inimigo, o alimpou anossa tropa, eassim mesmo os pobres soldados vão mortos de fome» (o. c., página 27).
O milho e a castanha eram a base da alimentação destes nossos antepassados. As pessoas enchiam enormes arcas de castanho com milho e castanhas secas para todo o ano. Quando ao franceses chegaram, abriam as arcas e punham lá os cavalos a comer. Estamos a falar de povos que estavam dependentes do pouco que a terra lhes dava, a troco de muito e penoso trabalho, para sobreviver. Para os nossos antepassados o alimento de que dependiam era a principal e quase exclusiva preocupação.

É importante que compreendamos esta mentalidade, ainda que, neste tempo em que nada falta, nos seja cada vez mais difícil compreendê-la. Hoje nem imaginamos! No mundo cómodo dos meninos mimados que encomendam uma piza ou vão ou Mac’Donalds quando o peixinho do jantar não lhes agrada, a fome não mete medo a ninguém e o alimento (essencial à vida!) é a última preocupação. Hoje pode haver quem ache ignorante uma pessoa idosa (desse tipo de pessoas de antigamente que se está a extinguir) que, ao ver uma enorme multidão na televisão, se interroga admirada: «Onde é que vão arranjar comer para tanta gente!?» Enquanto as nossas gerações, cada vez mais mimadas (e iludidas!), têm por principal preocupação «Que havemos de fazer para nos entretermos?», os antigos perguntavam antes: «Que havemos de comer hoje? E amanhã? Será que teremos pão para nós? E para os nossos filhos?» O maior filme de terror que “entretinha” os nossos antepassados era o da fome, o “filme” bem real em que eles eram actores e, muitas vezes, vítimas!

Se tivermos a coragem de reflectir isto compreenderemos a força da expressão «pão nosso de cada dia» que ainda sobrevive tanto na oração como na linguagem profana. Se tivermos a sabedoria de não nos rirmos da velhinha que diz «Onde é que vão arranjar comer para tanta gente!?» compreenderemos o trauma que foi para os lombenses de 1811 os cavalos [dos] invasores devorarem num dia o precioso alimento que mal lhes chegava para o ano inteiro. A imagem dos cavalos a comer directamente das arcas do milho chegou até nós com toda a sua força, e não foi por acaso.
continua

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