quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Uma lenda de Natal contada na Lomba

O Natal está à porta, por isso deixo-vos uma lenda de Natal que (ainda) se costuma contar entre nós. É uma espécie de evangelho apócrifo. Não sei se é baseada nalgum evangelho apócrifo, mas mesmo que não o seja tem, certamente, características comuns. Centra-se na infância de Jesus, mas parece-me ser apenas uma história piedosa sem grande proveito, nem sequer na perspectiva moralizante. Ainda assim, é interessante transmiti-la, não mais que seja por ser uma história que nos veio dos nossos antepassados. E este blogue pretende conservar para o futuro os relatos da tradição oral da Lomba, tradição que se empobrece e desaparece cada vez mais.

Conta a lenda que, quando a Sagrada Família fugia (para o Egipto, para escapar à perseguição de Herodes), colocou as ferraduras do burro ao contrário de modo a que as marcas ficassem viradas na direcção oposta à que seguia, iludindo assim os perseguidores.
A lenda também conta também que, na sua fuga, a Sagrada Família passou por um campo de tremoços. Ora, uma plantação de tremoços já secos faz bastante barulho quando passamos pelo meio dela, porque os tremoços arramalham dentro das vagens. Como esse barulho denunciava a Sagrada Família em fuga, Nossa Senhora amaldiçoou os tremoços e é por isso, diz o povo, que «os tremoços não matam a fome a ninguém, por muitos que se coma». Não sei se os tremoços são ou não muito nutritivos, mas pelo menos o povo considera-os um simples entretém sem qualquer utilidade para matar a fome. Independentemente do valor nutricional que possam ter, o que é certo é que os tremoços não nos dão grande sensação de saciedade…
Sorte diferente da dos tremoços teve uma seara de trigo, que, como não podia deixar de ser, dada a simbologia e a importância do pão na nossa cultura, foi abençoado por Nossa Senhora.

Será que este evangelho apócrifo lombense (ou, talvez mais correctamente, da nossa região de um modo geral) pode ser considerado uma explicação etiológica para o facto de os tremoços não saciarem a fome?

2 comentários:

Carlos Dias disse...

Parece ser de facto uma lenda que embora contada na Lomba, é Universal. Foi me contado o mesmo no Brasil, talvez importada de Portugal.
Sendo uma leguminosa, como o grão, são ricos em hidratos de carbono, fibras ferro e cálcio. Não tem colesterol, favorece a corrente sanguínea, e com conhecimento de causa, digo-o, que faz bem aos diabéticos.
Digo-o com muita pena, penso que já não se cultivam na Lomba nem na Nogueira. Já lá vai o tempo que a Sra Joana da Nogueira vendia tremoçosao domingo e muitas vezes nem conseguia chegar à taberna, pois vendia-os todos pelo caminho.
Como necessitam de muita água para lhes retirar o amargo, só junto aos rios, como por exemplo na Alagoa, Sarzedo, S.Pedro se produziam. A Sra Joana mergulhava-os nos poços, mas é em água corrente (e bem cozidos) é que cumprem a missão para que Deus os criou.
Abração

P. Orlando Henriques disse...

Também me lembro muito bem de a Sr. Joana da Nogueira (que Deus haja) vender tremoços na Lomba aos Domingos à tarde. Trazia uma grande bacia cheia deles e uma pequena escudela de madeira servia de medida.
Mas penso que na Lomba ainda se cultivam tremoços, embora talvez não tanto como até há uns anos atrás.
Nem só nos poços eles eram tratados, mas também na ribeira.