Apesar de ainda estarmos em Advento, já cheira a Natal por todo o lado. A própria Liturgia nos lembra isso: o Domingo passado foi o Domingo da alegria. Alegria porque o Natal está já muito perto. Um Natal que celebra um Nascimento de há dois milénios, mas também o Natal que é preciso que aconteça em cada um de nós e na nossa sociedade. De facto todos precisamos de um novo nascimento. E para isso é preciso que Ele, de alguma maneira, nasça em nós.
Este é o tempo da Senhora do Ó. Chama-se assim porque começou ontem (dia dezassete) a chamada novena do Natal, na qual as Vésperas (oração da tarde da Liturgia das Horas) têm para cada dia uma antífona a Jesus Cristo que começa por «Ó»: «Ó Sabedoria,…»; «Ó Chefe da casa de Israel, …».
Neste espírito de proximidade do Natal, festa que nos diz tanto, quer sejamos cristãos ou não, mais praticantes ou menos, aqui fica um poema de Natal de Miguel Torga, com o grande mérito literário que lhe era próprio.
HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
(Antologia Poética, Ed. do Autor, Coimbra 1981)
Este é o tempo da Senhora do Ó. Chama-se assim porque começou ontem (dia dezassete) a chamada novena do Natal, na qual as Vésperas (oração da tarde da Liturgia das Horas) têm para cada dia uma antífona a Jesus Cristo que começa por «Ó»: «Ó Sabedoria,…»; «Ó Chefe da casa de Israel, …».
Neste espírito de proximidade do Natal, festa que nos diz tanto, quer sejamos cristãos ou não, mais praticantes ou menos, aqui fica um poema de Natal de Miguel Torga, com o grande mérito literário que lhe era próprio.
HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
(Antologia Poética, Ed. do Autor, Coimbra 1981)
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