Hoje trago-vos mais algumas formas de falar características da nossa zona, nomeadamente da Lomba. Qualquer dia criamos um dicionário!
Apoquentar
Os lombenses de outros tempos também se preocupavam com os problemas da vida, mas não chamavam a isso “preocupar-se”, mas sim “apoquentar-se”. Andar apoquentado é andar preocupado ou atormentado interiormente, com o espírito desassossegado. É ter “arrelias”, palavra que também está bastante presente no contexto lombense tradicional. Do mesmo modo, apoquentar alguém é arreliar uma pessoa, desassossegá-la, incomodá-la fazendo-lhe maldades, ou então trazendo-lhe novidades preocupantes.
Chilrito
“Chilrito” significa o mesmo que “pinguito” (palavra também usada entre nós). A palavra “chilrito” aplica-se, normalmente, ao vinho (aliás, nem lhe conheço outro uso!): “Põe aqui um chilrito de vinho.”
Bem hajas
Esta é a fórmula de agradecimento tradicional em todo o Portugal: “bem hajas”, ou seja, “que tenhas bem”; ou no plural, “bem hajam”. O verbo “haver” (que tanto pode significar “ter” como “existir”) conjugado no optativo (modo que exprime desejo) dá à frase uma grande beleza.
Na opinião de muitos, é uma fórmula mais bela do que o actual “obrigado”. Ainda assim, convém esclarecer que, ao agradecermos com um “obrigado”, não estamos a dizer que a pessoa que nos fez o favor tenha sido obrigada a fazê-lo; pelo contrário, eu é que fico obrigado, isto é, fico em obrigação para com a pessoa que me fez o favor. Nesse aspecto, o “bem hajas” não é tão retributivo mas, por outro lado, é mais gratuito, menos comercial e, portanto, mais puro, na medida em que olha o favor recebido como um puro dom, vindo de alguém que nada espera em troca, e, por isso, não se compromete a dar uma paga: limita-se a desejar bem.