quarta-feira, 12 de novembro de 2008

História do nosso chafariz

Fazer a história do chafariz da Lomba é fazer a história dos primórdios das canalizações de água na nossa terra. Digo isto porque não conheço informações relativas a água canalizada na Lomba antes da construção do chafariz. Mas agradeço aos estimados leitores que me informem se conhecerem dados mais antigos.

No início da década de trinta a água do Chafurdo passou a ser canalizada para a povoação, mais concretamente para o chafariz, edificado no mesmo lugar onde ainda hoje se encontra. Provavelmente antes dessa altura era preciso ir lá buscá-la com cântaros.

Já vimos na semana passada que antes o Chafurdo era um pequeno tanque a céu aberto. António da Costa Póvoas, Manuel Martins, António Duarte, Diamantino Varandas e Joaquim Caldeira da Costa são pelo menos alguns dos nomes que formaram uma comissão que construiu o depósito e a mina do Chafurdo bem como a vala e a canalização para o chafariz. Trata-se, portanto, de uma acção do movimento regionalista na Lomba. Das primeiras? Não sei. Talvez sempre as tenha havido, de forma mais organizada ou mais informal.

Nessa altura o fontanário actualmente em funcionamento, datado de 1948, não existia e havia um amontoado de esterco onde agora é o painel de azulejos. O fontanário que funcionava era o de granito que ainda lá está, desactivado, ao lado do actual.

Quando é que tudo isto aconteceu exactamente?
É difícil dizer, mas parece-me que foi entre finais de 1932 e início de 1933. Na verdade, segundo os relatos orais, o fontanário mais antigo que está no chafariz, o de granito (o primitivo?), veio em carro de bois e foi lá descarregado por Joaquim Fonseca em 1933 ou mesmo ainda em 1932, quando foi inaugurada a nova estrada Arganil – Nogueira (em Setembro de 1932).

O actual fontanário, de 1948, é igual a outros da freguesia (como o da Nogueira, o do Mourão, …), porque foram todos encomendados pela Câmara na mesma altura e à mesma empresa.

Segundo a ti’Conceição (que Deus haja), depois de feito o novo fontanário, quiseram mudar o antigo fontanário de granito para o lugar onde agora é a Comissão, «mas os velhos da terra bateram o pé e não deixaram!».

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O Chafurdo antes da canalização

No fim do Caminho da Fonte encontramos o Chafurdo, fonte que, ao que parece, foi muito importante para a Lomba desde o seu início. Hoje o Chafurdo é um depósito coberto, porque no início dos anos trinta do século XX a água foi canalizada para o chafariz.
Mas antes das obras de canalização o Chafurdo era um pequeno tanque a céu aberto donde se apanhava a água. Aliás, chafurdo era o nome que se dava a este tipo de fonte. As dimensões deste tanque seriam pouco maiores do que as do tanque que agora lá está e para onde corre a água do depósito em excesso, no Inverno. Segundo a ti’Gracinda (que Deus haja), de vez em quando esse chafurdo primitivo era lavado: tirava-se a água toda com um aguadeiro, lavava-se o tanque e esfregavam-se umas pedras brancas que havia no fundo. Depois as pedras eram postas de novo no lugar e voltava-se a encher o chafurdo, que ficava com uma limpidez belíssima, «com as pedras a branquejar no fundo».

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Doentes

Após quedas que deram, encontram-se doentes as irmãs Fernanda e Celínia. Desejamos rápidas melhoras.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

À pregunta de ti

Há maneiras de falar que, não sendo exclusivamente lombenses, fazem parte da nossa linguagem. Uma delas é o uso do verbo «perguntar» com o significado de «procurar». Assim, o nosso povo, para dizer que anda «à procura de alguém» ou « à procura de alguma coisa», diz muitas vezes «ando à pergunta de…». É um modo de falar usado na Lomba e em outros lugares mas não em todos e nem por todas as pessoas. Tanto as pessoas de outras regiões como certas pessoas mais jovens (mesmo entre nós) estranham este uso tão… inusitado do verbo «perguntar».

Há já uns quatro anos estava eu numa Ordenação em que, depois da celebração, comíamos de pé à volta de mesas instaladas num pavilhão, em Midões. Uma senhora, que mora em Cernache (Coimbra) e me conhecia a mim e aos que estavam comigo, aproximou-se e perguntou-nos:
- Vocês não viram por aí a minha Maria?
Respondemos que não e a senhora continuou o caminho em busca da sua filha. Passado um pouco, aparece ao pé de nós a Maria. Naquele tempo ela devia ter uns doze anos. E eu digo-lhe:
- Ó Maria, olha que a tua mãe anda aí à tua pergunta.
- À minha quê?
E eu repeti, pensando que ela tivesse ouvido mal:
- À tua pergunta.
- À minha quê?
E aí é que eu percebi qual era a dificuldade, e disse:
- À tua procura.
- Ah!!!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

As invasões francesas na Lomba (7ª e última parte)

Mas também fora das igrejas foram feitos muitos estragos. Segundo a Relação dos «estragos feitos pelo Exercito Francez de Massena em Arganil e Seu Termo» (o. c., página 133), os invasores cortaram castanheiros e oliveiras (duas árvores tão preciosas naquele tempo, por causa do seu fruto) e também pinheiros. Em todo o território de Arganil foram incendiadas dezoito casas particulares e mortas trinta e três pessoas: três clérigos, entre eles o Reitor; e trinta leigos, dos quais sete eram mulheres. Além disso, noventa e seis mulheres foram presas e violadas (o. c. página 133).
*
Num ambiente pacato, como seria certamente o da nossa aldeia e da região em geral, estes acontecimentos tiveram o impacto de uma verdadeira catástrofe apocalíptica. Os mortos, a destruição e roubo de alimentos, as violações, as profanações de templos e o rasto de destruição e de fome que ficou depois foram marcas tão profundas que contribuíram para um trauma colectivo tão forte que chegou até hoje.

Fim

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

As invasões francesas na Lomba (6ª parte)

Para além de buscarem mantimentos, os franceses fizeram muitos outros roubos, como pilhagens às igrejas e capelas, com o objectivo principal de levarem as pratas (muitas das quais se encontram hoje em museus franceses!):

«na Misericordia [de Arganil] metterão bestas, mas não offenderão as imagens», na matriz quiseram fazer estragos na escultura do Senhor dos Passos, mas ela estava escondida e arremeteram contra uma outra «que não era tão bem retratada»; enfiaram o gado na capela de S. Sebastião e nas capelas do Mont'Alto e do Senhor da Ladeira, porque estava «tudo acautellado» pelo administrador, poucos danos causaram. Contudo, as pratas devem ter funcionado como alvos preferenciais dos invasores, pois da matriz levaram «calices, patenas e mais trastes de prata» no valor de 13.944.000 réis» (o.c. página 27).
Foram queimadas e despedaçadas vinte e sete imagens (o.c. página 133).
continua

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

As invasões francesas na Lomba (5ª parte)

A falta de alimento foi o problema atroz que ficou depois da invasão: «Depois da partida «daquellas feras», «oque mais deve lamentar-se hea fome, porque não só os pobres, mas tambem os ricos não tem couza alguma, que comão, porq por onde passou a tormenta nada absolutamente ficou, nem de mantimentos, nem de carnes, nem de ortaliças: e se alguma couza escapou ao inimigo, o alimpou anossa tropa, eassim mesmo os pobres soldados vão mortos de fome» (o. c., página 27).
O milho e a castanha eram a base da alimentação destes nossos antepassados. As pessoas enchiam enormes arcas de castanho com milho e castanhas secas para todo o ano. Quando ao franceses chegaram, abriam as arcas e punham lá os cavalos a comer. Estamos a falar de povos que estavam dependentes do pouco que a terra lhes dava, a troco de muito e penoso trabalho, para sobreviver. Para os nossos antepassados o alimento de que dependiam era a principal e quase exclusiva preocupação.

É importante que compreendamos esta mentalidade, ainda que, neste tempo em que nada falta, nos seja cada vez mais difícil compreendê-la. Hoje nem imaginamos! No mundo cómodo dos meninos mimados que encomendam uma piza ou vão ou Mac’Donalds quando o peixinho do jantar não lhes agrada, a fome não mete medo a ninguém e o alimento (essencial à vida!) é a última preocupação. Hoje pode haver quem ache ignorante uma pessoa idosa (desse tipo de pessoas de antigamente que se está a extinguir) que, ao ver uma enorme multidão na televisão, se interroga admirada: «Onde é que vão arranjar comer para tanta gente!?» Enquanto as nossas gerações, cada vez mais mimadas (e iludidas!), têm por principal preocupação «Que havemos de fazer para nos entretermos?», os antigos perguntavam antes: «Que havemos de comer hoje? E amanhã? Será que teremos pão para nós? E para os nossos filhos?» O maior filme de terror que “entretinha” os nossos antepassados era o da fome, o “filme” bem real em que eles eram actores e, muitas vezes, vítimas!

Se tivermos a coragem de reflectir isto compreenderemos a força da expressão «pão nosso de cada dia» que ainda sobrevive tanto na oração como na linguagem profana. Se tivermos a sabedoria de não nos rirmos da velhinha que diz «Onde é que vão arranjar comer para tanta gente!?» compreenderemos o trauma que foi para os lombenses de 1811 os cavalos [dos] invasores devorarem num dia o precioso alimento que mal lhes chegava para o ano inteiro. A imagem dos cavalos a comer directamente das arcas do milho chegou até nós com toda a sua força, e não foi por acaso.
continua